Com diamantes nos dedos, recostado
num automóvel de faustoso brilho,
subitamente vejo, do meu trilho
pobre casal num ermo desolado.
No portal, p'las videiras sombreado,
descalça mãe dá de mamar ao filho,
e o pai na fresca leira rega o milho,
de barba hirsuta, semi-nu, curvado.
À cata da Ventura, cada artéria
pulsa em mim, e em negríssima miséria
aquela gente aguarda em paz a Morte.
Mas nisto, ao cavador que rega o chão,
vontade tenho de bradar: - "Irmão,
queres trocar comigo a tua sorte?"