2.2.12

Frémito do meu corpo... Florbela Espanca (1894-1930)

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel.
Estonteante fome, áspera e cruel.
Que nada existe que a mitigue e farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que não me amas...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas

Frémito do meu corpo...
Florbela Espanca